terça-feira, 24 de janeiro de 2012

ORIGEM E HISTÓRICO DOS CANDOMBLÉS DE CONGO-ANGOLA




Foto:Primeiros filhos Nzo Bate Folha (1916)

A história do candomblé[1] de congo-angola no Brasil está amparada quase que só na oralidade do Povo-de-santo angoleiro e seus registros escritos bibliográficos expressivos são muito escassos. Os poucos registros existentes são de Edison Carneiro, dignos de crédito, é verdade, mas em alguns momentos extremamente confusos e pouco esclarecedores.

Em Religiões Negras – Negros Bantos, editado pela primeira vez em 1937 ele usa a terminologia reducionista “candomblé de caboclo” para referir-se aos candomblés bantu. Explica o autor que, os candomblés de caboclo eram uma mistura de práticas nagôs, ameríndias e de catolicismo. Ainda segundo ele, os bantu não tinham mitologia nem deuses suficientes para seu culto e por isso apoderaram-se dos orixás nagôs, das figuras de índios e da mitologia indígena, isso tudo sincretizado com o catolicismo popular.

Pouco mais adiante, no entanto, ele diz que o único candomblé bantu, de nação Congo existente era o Terreiro de Santa Bárbara, de Manuel Bernardino da Paixão. O que podemos inferir dessa aparente confusão é que o autor, naquele momento, ainda não dispunha de conceitos muito claros a respeito dos candomblés que não se pautavam pelo modelo nagô. Páginas adiante ele reproduz interessante relato do Babalawô Martiniano do Bonfim, que, segundo Martiniano, o primeiro candomblé de caboclo, leia-se bantu, foi o de Naninha, uma senhora mulata, que dirigia seu candomblé no Moinho da antiga roça do Gantois que desapareceu com sua morte. O segundo candomblé de Caboclo, segundo Martiniano foi o de Silvana, que tocava sua roça num local chamado Periperí o que leva Edison Carneiro a concluir com a seguinte afirmação: “Daí, desses dois “terreiros” de caboclo, nasceram todos os candomblés que estamos estudando” (CARNEIRO: 1991, p.135).

E notem que o autor estava estudando os candomblés de origem bantu de então, e, continua informando que, ainda segundo Martiniano, os negros angolas costumavam usar tambores grandes, maiores que os dos nagôs e que os tocavam deitados entre suas pernas. Acrescenta ainda, que o velho Babalawô Martiniano recordava-se da seriedade com que o Pai-de-santo Gregório Maqüende dirigia as festas de seu candomblé de nação Congo. Por essas afirmações podemos concluir dessas páginas de Edison Carneiro, que os candomblés de feição bantu, existem na Bahia desde os finais do século XIX, e que, desde seus primórdios cultuavam os caboclos, por isso eram chamados de candomblés de caboclo.

É possível que a natureza do candomblé bantu, dada sua mítica, já nasceu cultuando caboclo. É também necessário atentarmos para o fato de que Martiniano do Bonfim foi auxiliar de Nina Rodrigues e que este trabalhou como informante em suas pesquisas nas duas últimas décadas do século XIX e que Martiniano era figura conhecida e circulada nos meios africanos em Salvador.

Se o Babalawô se recorda de dois candomblés de caboclo (sic) famosos no final do século XIX é sinal que os Bantu já tinham culto organizado desde então, mas que não foram notados por Nina Rodrigues nem por Manuel Querino[2]. Verdade é que, o único nome conhecido que ele cita é o de Gregório Maqüende, citado no pretérito, portanto, dado já como desaparecido e comparado a Bernardino da Paixão, por sua seriedade na condução de sua casa. Não podemos nos esquecer que Bernardino foi contemporâneo de Edison Carneiro e com ele estabeleceu relações de quase amizade.

Em obra posterior, (CARNEIRO: 1982) veremos aparecer os nomes de Ciriáco e Maria Neném não como fundadores e sim como Zeladores de renome, ao lado de Mariquinha Lembá juntamente com o terreiro do Calabetã. Em alguns momentos, Carneiro reconhece a existência de candomblés bantu, em outros engloba todos os candomblés não nagôs no rol dos candomblés de caboclo.

Igualmente, não temos encontrado outras referências à fundação ou início dos candomblés bantu na Bahia, a não ser relativo ao funcionamento e fechamento dos famosos Calundus pelo Brasil a fora durante o período colonial, o que não nos autoriza a concluir que os candomblés bantu como os conhecemos tenha sido uma continuação dos Calundus. Ainda nessa linha de raciocínio, encontramos Ruth Landes, que esteve na Bahia no ano de 1936 e em seu livro Cidade das Mulheres, narra a entrevista que fez com Mãe Sabina, famosa, na época, e que era mãe de um candomblé de caboclo, e por isso vivamente censurada pelo povo-de-santo em razão de suas práticas e posturas inovadoras e tampouco era reconhecida pelas Sacerdotisas nagôs.

Sabina era continuadora de outra Mãe de Santo, por nome Theodora, essa sim respeitada até por Mãe Menininha, que era um ícone do candomblé de então. Por aí podemos deduzir que os candomblés de caboclo, ou seja, que não eram bantu, mas que cultuavam os orixás caboclizados eram diferentes dos candomblés bantu, diferença essa não percebida claramente por Edison Carneiro. E que, os candomblés legitimamente de caboclos que tinham a frente Sabina e Theodora estavam em sua fase inicial der formação naquele momento, década de 30 do século XX, posteriores, portanto, aos candomblés de Naninha e Silvana apontados por Martiniano.

Ainda no já citado Religiões Negras – Negros Bantos, de Carneiro, (1991) o autor nos relata um encontro que teve com o Pai-de-Santo Jubiabá, pai de iniciação de Joãozinho da Goméia, e diz lá claramente que Jubiabá era um Sacerdote de Candomblé de Caboclo o que nos leva a pensar que talvez Jubiabá fosse um sacerdote de Candomblé bantu como sempre afirmou Tata Londirá.

Nesse mesmo livro, Carneiro registra algumas cantigas coletadas em candomblés de Caboclo, sendo algumas em português, inclusive conhecidas nossas por as termos ouvido em casas de angola milongada. Outras em Kikongo/kimbundo entoadas até hoje nas casas tradicionais o que é um dado a mais na nossa tese de que Carneiro confundiu candomblé de caboclo com candomblé bantu. Se Silvana e Theodora causavam tanto mal estar nos meios candomblecistas é porque praticavam um culto novo que feria a ortodoxia dos candomblés nagôs, ou seja, não era algo já concretizado e cimentado, mas alguma coisa inovadora e causadora de espanto e mal estar. Por todas essas evidências, podemos concluir que o que Edison Carneiro chama de candomblé de caboclo era na verdade candomblé bantu.

E ele próprio afirma através da fala de Martiniano do Bonfim que eles, os candomblés de caboclo (sic) existiam desde o século XIX, permanecendo ainda muito vivo nas lembranças de Martiniano as figuras de Naninha e Silvana, antigas sacerdotisas de candomblé bantu. Martiniano, no mesmo texto, também pontua a maneira dos angolanos tocarem seus atabaques, que eram bem maiores que os atuais (deles) usados pelos nagôs e inclusive à maneira de executá-los.

Todos esses elementos nos conduzem a concluir que os candomblés bantu foram criados muito antes da Matriarca Maria Neném, que eles já existiam na Bahia concomitantemente aos candomblés de outras nações e que a importância de Maria Neném, chamada de “A Mãe do Angola” está no fato de que de suas mãos tiveram origem duas raízes importantes do candomblé Bantu, no Brasil, o Bate-Folha e o Tumba Junçara, criadas a partir das ações de Bernardino da Paixão e Manuel Ciriáco e que não sem razão ela, Maria Neném, é figura viva na memória do Povo-de-Santo angoleiro e, por isso, recebeu este merecido epíteto.

[1] Segundo Nei Lopes: (3) Comunidade terreiro onde se realizam essas festas. De origem banta mas de étimo controverso. Para A.G. Cunha é híbrido de Candombe mais o yorubá Ilê, casa. Nascentes dá apenas origem africana. Raymundo dá kA+ndombe, com apêntese de l. E Yeda P. de Castro aponta longa evolução, a partir do protobanto.

[2] Manuel Querino, pesquisador auto-didata que viveu na Bahia , nasceu em 28 de julho de 1851, na cidade de Santo Amaro da Purificação. Escreveu entre outros livros e artigos para revistas, o célebre A raça africana e os seus costumes na Bahia, publicado pela primeira vez em 1938.


(http://mbanzakongo.blogspot.com/2009/02/20-origem-e-historico-dos-candombles-de.html)

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Os Rosários dos Angolas: Escravos na Bahia setecentista vieram da África Central

"Livro Os Rosários dos Angolas – Irmandades de africanos e crioulos na Bahia Setecentista revela que, na Bahia, presença de escravos oriundos da “nação angola” é mais relevante do que se pensava."


Durante um período da história brasileira, a presença de homens e mulheres de origem centro-africana foi considerada minoria enquanto população escrava na Bahia.

No entanto, o livro Os Rosários dos Angolas – Irmandades de africanos e crioulos na Bahia Setecentista, da historiadora Lucilene Reginaldo, mostra que os únicos escravos que chegaram ininterruptamente ao estado entre os séculos 18 e 19 foram os de “nação angola” – termo utilizado na época para designar os indivíduos provenientes de uma vasta região da África central, escravizados e embarcados para a América a partir do porto de Luanda.

O livro, recentemente lançado pela Editora Alameda e fruto da pesquisa de doutorado realizado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) pela autora – que atualmente é professora do Departamento de Ciências Humanas e Filosofia da Universidade Estadual de Feira de Santana –, contou com o apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Publicações.

De acordo com a autora, o estudo teve como objetivo inicial a investigação das irmandades negras na Bahia no século 18. No prefácio do livro, a orientadora de Lucilene, Silvia Hunold Lara, professora do Departamento de História da Unicamp, afirma que as irmandades, “em uma sociedade escravista, eram um importante canal de expressão e preservação de valores e anseios religiosos, sociais e políticos”.

“A proposta foi estudar a irmandade como um espaço importante tanto de vivências como de reelaborações das entidades étnicas oriundas da África e das que foram construídas na diáspora”, disse Lucilene à Agência FAPESP.

“Ao longo da pesquisa, observei que o grupo de africanos conhecido como ‘angolas’ se destacava na Bahia. Eles aparecem de forma recorrente nos arquivos portugueses, criando e organizando irmandades ao longo do século 18, especialmente as dedicadas a Nossa Senhora do Rosário, que eram as mais populares da época”, completou.


No primeiro capítulo do livro, a autora trata da importância das devoções católicas e da participação em irmandades e confrarias na constituição da experiência escrava no império português. Lucilene faz uma breve exposição sobre a conversão do Reino do Congo e o movimento de expansão do catolicismo na África Central, além de explicar a importância e o significado das irmandades e devoções negras no Reino de Angola.

No capítulo seguinte, a autora introduz ao leitor o cenário das irmandades negras na Bahia setecentista, principalmente em Salvador. Já o terceiro capítulo é dedicado a demonstrar a forma e a razão pelas quais os angolas se fizeram visíveis na história das irmandades do Rosário.

No capítulo quatro, a professora procura situar o leitor sobre a presença dos angolas na população escrava e liberta na Bahia do século 18 até meados do século 19. No texto, a pesquisadora discute as representações criadas sobre os angolas, ao longo dos séculos, por viajantes, traficantes e proprietários de escravos.

“Intelectuais da escola baiana de antropologia estabeleceram, no século 19, que foram os africanos ocidentais o grupo majoritário de escravos a chegar à Bahia. Com isso, adotou-se certa hierarquia em relação ao continente africano, sendo os ocidentais os mais evoluídos e os da África-Central, entre os quais das etnias banto e angola, os primitivos, tanto do ponto de vista ideológico como religioso”, destacou a pesquisadora.

O histórico sobre a Irmandade do Rosário das Portas do Carmo é apresentado brevemente no quinto, e último, capítulo. Nele, a autora faz uma análise da irmandade – que dá título ao livro – com base no acervo composto de diversos livros de associados e que compreende um período de 107 anos (de 1719 a 1826).

“Sem dúvida, a maior parte dos escravos africanos que chegaram à América portuguesa veio da África Central. Do ponto de vista numérico, a importância desses povos ainda é pouco avaliada, assim como a contribuição e a influência dos angolas no campo religioso e no cultural”, conclui a professora.

Por Mônica Pileggi
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Os Rosários dos Angolas – Irmandades de africanos e crioulos na Bahia Setecentista
Autora: Lucilene Reginaldo
Lançamento: 2011
Preço: R$ 55
Páginas: 399
Mais informações: www.alamedaeditorial.com.br

Sinopse:

Os Rosários dos Angolas Irmandades de africanos e crioulos na Bahia Setecentista Uma abordagem histórica ampla e arejada, que transcende fronteiras territoriais e pressupostos tacanhos, confere ao livro de Lucilene Reginaldo uma perspectiva inovadora ao iluminar com outras luzes um tema já trilhado pelos estudos da escravidão: a história das confrarias leigas de africanos e crioulos articulada à experiência da escravização e à do Império português.

Focalizando as irmandades setecentistas de Nossa Senhora do Rosário em cidades da África atlântica, da metrópole e da América portuguesa, historiciza os significados que tiveram para a vivência da escravidão e para a elaboração de identidades africanas fora e dentro do continente.

Demonstra que foram um dos locus preferenciais da recuperação de uma humanidade danificada pelas contingências da escravização, tanto por mobilizar sentimentos de pertença, quanto por veicular devoções de livre escolha.

Por outro lado, ao iniciar a análise por uma problemática ainda pouco familiar aos leitores brasileiros – a da expansão do catolicismo na África Central –, sublinha a importância de se levar em conta a história pregressa das sociedades de onde vieram partes significativas da população brasileira.

Na Bahia, segundo o belíssimo título que associa os angolas aos seus rosários, a historiadora contempla as devoções de africanos centrais e seus parceiros crioulos, rompendo com um prisma seletivo que teimou, por muito tempo, em privilegiar determinadas nações em detrimento a outras, hierarquizando-as entre as mais civilizadas e as mais próximas da incivilidade, as mais evoluidas nos assuntos religiosos e as menos habilitadas nessa dimensão.

Com isso, quebra uma lógica evolucionista perversa e resistente que, na perspectiva do segmento branco europeizado que se pretendia superior até mesmo na esfera religiosa, desqualificava de roldão todas as expressões próprias aos setores dominados. Ao contrário disso – e é esta, por fim, uma das lições do livro – trata-se de uma história de religiosidades e sociabilidades interpenetradas e que dialogam entre si por meio de códigos gerados nos termos do Antigo Regime tão bem entendidos por africanos e crioulos, livres e escravos, eles também agentes históricos do mundo atlântico.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Zambiapunga...Folclórico Bantu da Bahia!




"Nzambi ampungu" como o grande espírito e "saami ampunga" como os grandes ancestrais. "Mpungu", "ampungu" ou "ampunga" são palavras bantos que se referem aos mortos, aos antepassados, o que evidencia a relação da origem do ZambiAPUNGA atual com a religiosidade Banto. (Yeda Pessoa)

Trata-se de um cortejo de homens mascarados, trajados com roupas coloridas e feitas com retalhos de panos e papeis de seda, que saem às ruas durante a madrugada do dia primeiro de novembro, véspera do dia de finados, dançando e acordando a população da cidade ao som de instrumentos de percussão, como tambores, cuícas e búzios gigantes e até mesmo enxadas.(http://www.visiteabahia.com.br)



É caracterizada pelo uso de búzios gigantes, enxadas e outras ferramentas agrícolas, que são tocados como instrumentos de percussão pelos componentes A zambiapunga caracteriza-se, também, como um divertimento das pessoas envolvidas, que saem, de madrugada, com o intuito de acordar a população com sons dos instrumentos.

Por quase quatro séculos a economia do Brasil colônia, e posteriormente imperial, foi sustentada pela exploração da mão-de-obra escrava africana. Estes africanos foram trazidos à força para o Novo Mundo e, por não serem culturalmente homogêneos, trouxeram sua diversidade lingüística, religiosa, social e política para o Brasil, o que contribuiu decisivamente para nossa riqueza cultural. O Zambiapunga de Nilo Peçanha é uma manifestação atual da cultura popular baiana cuja origem liga-se profundamente a aspectos culturais importados do continente negro.

Zambiapunga é um grupo de homens mascarados que saem às ruas de Nilo Peçanha tradicionalmente na madrugada do dia 10 de novembro, dia de Todos-os-Santos, véspera de Finados, vestindo roupas coloridas feitas com panos e papeis de seda e percutindo instrumentos peculiares como enxadas, búzios, cuícas rústicas e tambores.

É provável que o Zambiapunga do Baixo-Sul baiano era ou integrava um ritual religioso de uma parcela dos africanos escravizados. Para entendermos esse aspecto é necessário fazermos uma análise etimológica do termo "zambiapunga" e enumerarmos alguns aspectos da religiosidade dos povos cujo termo citado se liga: os Bantos.

Zambi ou Nzambi-a-Mpungu é o Deus supremo de povos bantos do Baixo Congo.
A relação entre a palavra "zambiapunga" e o Deus supremo de africanos é a primeira evidência da origem religiosa do folguedo atual.




Para compreendermos a segunda evidência da origem religiosa do Zambiapunga é necessário falarmos um pouco sobre os Bantos e sua religiosidade. Os bantos, povos cujas línguas possuem uma origem comum e, por isso, o termo "Banto" delimita um grupo lingüístico africano e não uma etnia, vivem em todo o território abaixo do equador, ocupando uma área de 9.000.000 Km2 e englobando190.000.000 de indivíduos.

Apesar das grandes especificidades culturais que pode haver entre 190.000.000 de indivíduos, os Bantos possuem outras características culturais semelhantes além do parentesco lingüístico. Segundo Nei Lopes, "(...) parece que em todas as religiões bantas os espíritos dos ancestrais são os intermediários entre a divindade suprema e o homem. Assim, são eles que levam as oferendas dos fiéis e intercedem em seu favor junto a Nzambi(...)".

Essa importância do espírito dos ancestrais na religiosidade Banto é o segundo fator que evidencia o caráter religioso inicial do Zambiapunga.


Primeiro, a data tradicional do Zambiapunga ir às ruas em Nilo Peçanha é a madrugada de 1o de novembro, dia de Todos-os-Santos e véspera do dia de Finados. Nestes dois dias a população local volta sua atenção para a lembrança de seus mortos que são homenageados com flores, velas e missas. Não existia momento mais propício do calendário católico para um cortejo que refletia uma religiosidade baseada na ancestralidade ir às ruas.


Outra evidência do caráter religioso inicial do grupo é o significado do termo "Mpungu" de Nzambi-a-Mpungu. Segundo vocabulário construído por Aires Machado Filho, a palavra "Mpungu" é provavelmente sinônima de "defunto". Yeda Pessoa traduz, por sua vez, "nzambi ampungu" como o grande espírito e "saami ampunga" como os grandes ancestrais. "Mpungu", "ampungu" ou "ampunga" são palavras bantos que se referem aos mortos, aos antepassados, o que evidencia a relação da origem do ZambiAPUNGA atual com a religiosidade Banto.


Com o tempo o caráter religioso se perdeu e permaneceu uma bela manifestação da cultura popular. O Zambiapunga ficou inativo em Nilo Peçanha cerca de 20 anos ( entre as décadas de 1960 e 1980) sendo revitalizado em 1982 pela professora Lili Camardelli e seus alunos do Ginásio de 1o Grau Adelaide Souza.

Após essa revitalização o Zambiapunga nilopeçanhense tornou-se uma das maiores manifestações folclóricas do Estado da Bahia. Sua importância é refletida na participação do grupo em eventos internacionais de peso ( como ECO 92 e PERCPAN); por ter sido capa de periódicos internacionais ( The New York Times) e por ter sido tema de diversos documentários e programas de TV ( "Brasil Legal", produzido pela Rede Globo e exibido em 01/07/1997; "Caretas e Zambiapunga", produzido pelo IRDEB; "Nilo Peçanha e o Zambiapunga", produzido pela TV Salvador e exibido em 05/2001; "Na Carona", produzido pela Rede Bahia e exibido em 2001, entre outros.).

* Texto de Alexandre Guimarães (graduando em História pela Universidade do Estado da Bahia/UNEB-CAMPUS V).

Onde assistir: Valença, Nilo Peçanha e Cairú

*segunda foto: Do blog Meu querido Galeão.